quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma garfada de amor





     Garfo é o meu nome do meio. Pouca gente sabe e o meu B.I. insiste em ocultar esse facto. Na verdade, adoptei-o assim que entrei para a faculdade, corria o ano de 2006. Até tal data nunca fui muito dada ao infinito universo da culinária. A comida piscava-me o olho, sorria, lançava o perfume e eu dava sempre parte fraca. Éramos boas amigas, mas nunca fomos daquelas que confidenciam todos os segredos. A nossa relação sempre foi diária, nunca cortámos relações nem rejeitei a sua presença. Fui sempre uma criança, adolescente e agora mulher feliz e bem resolvida com a comida. Se alguma vez tivesse o dedo a apontar era ao facto de eu ter de passar a vida a controlar bem o que como, porque a balança não dá tréguas e isso chateia-me. Daí que a minha relação com balanças nunca foi tranquila, andamos sempre às turras e se há coisa que nunca sinto vontade de comprar é uma dita cuja. Vou antes comprar um saco de cerejas e esqueço este braço de ferro que teimo em perder sempre.
     Ainda sobre a comida. Dada a minha entrada para o ensino superior estreitamos os laços e aí sim começámos a tratar-nos por tu. Diziam-me sempre "vais viver sozinha, não vais ter paciência para cozinhar, vai ser sempre a despachar, as latas de atum, os ovos e as salsichas vão passar a fazer parte da tua ementa diária". Claro que não dispenso uma massinha de atum, é a comida oficial dos estudantes, mas a minha... a minha quem prova fica fã, não é uma coisa deslavada. Se é para fazer temos de caprichar. Ora, fiz-me dona e senhora dos tachos lá de casa. Ensinei algumas amigas a cozinhar. Vinham sempre com as mesmas dúvidas. Quantas chávenas de água para 1 de arroz? Elas também me ensinaram algumas coisas e entre esta troca fomos apurando o gosto pela culinária e arriscando a cada jantar que fazíamos. Mais uma pitada de sal, outra de caril, açafrão e a coisa estava controlada.
     Já ia com umas luzes quando fui viver sozinha, sabia o básico e a partir daí era sempre a inventar. Era sempre sucesso garantido. Nos jantares de treze pessoas o fogão era meu e isso dava-me um gozo desgraçado. Isso envaidecia-me, gostava do "hummm isto está mesmo bom" - caras felizes e a noite estava ganha. 
     Nisto da cozinha, é preciso amor, criatividade e dedicação e hoje é sempre um bom dia para experimentar uma receita nova, adaptá-la ao que mais gostamos e dar. Porque cozinhar só faz sentido se pudermos dar. Dar um pouco de mimo. Dar um pouco de felicidade. Dar um pouco de conforto às barrigas inquietas. Dar prazer. E o ingrediente fundamental tem de estar lá sempre - 1gr de nós mesmos. Depois é só esperar e saborear as reacções de quem mais entende disto - os nossos amigos.

     Mafalda Ramos

1 comentário:

  1. Eu adoro cozinhar e para quantas mais pessoas melhor. Mas as melhores refeições, os bolos mais saborosos, o ovo estrelado mais perfeitinho são aqueles que fazemos por amor e para quem amamos... aí todos os sabores ganham mais sabor, e até a latinha de atum parece caviar envolvida na massinha do seu coração.

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