segunda-feira, 25 de junho de 2012

Em modo: Solstício de Verão




Agora que o termómetro finalmente disparou e o Verão já começa a dar o ar da sua graça um pouco por todo o território continental, há todo um mundo carregadinho de motivos para nos virarmos para as comidas leves e fresquinhas.
Comer é o meu verbo preferido e nem o Verão me faz mudar de ideias. Para mim o Verão é muitas coisas. É quando os panachés gritam por mim nas esplanadas dos miradouros. É quando os caracóis põem os pauzinhos ao sol e lançam o ar mais sedutor de sempre para o lado de fora da vitrina, na tasquinha mais catita de Alfama. É quando as saladinhas me piscam o olho. É quando mais abuso no peixe e não dispenso os grelhados. É quando fico viciada em sumos naturais. É quando, numa versão mais calórica, não dá para fazer de conta que os gelados não existem. É quando mais do que nunca o lema passa a ser "um cornetto por dia, nem sabe o bem que lhe fazia". Podia ficar aqui a enumerar uma lista infinita de coisas que fazem despertar em mim o "Alerta Verão". Mas realmente, para mim, é Verão porque consigo sentir a minha idade a passar para o dígito seguinte.
Esta é a estação que me viu nascer e esboçar os meus primeiros sorrisos gengivais. É a estação que viu todos os meus bolos de aniversário. É a estação que me viu a aprender a nadar sem braçadeiras aos três anos. É a estação que me viu ser princesa durante vinte e três anos, sempre no dia treze de agosto. Não há como não adorar este período do ano. Temos uma relação muito cúmplice. Passamos o ano todo a ansiar pelo reencontro que nunca tem dia certo, nem hora marcada para acontecer. Aprendemos a viver com o "é quando tiver de ser".
Nesta época a predisposição para fazer exercício físico ao ar livre esmaga a preguiça. E lá vou eu sacudir calorias. Uma coisa é certa, o calor é o apêndice desta estação. Digo isto porque é preciso muito jogo de cintura quando vestimos a nossa melhor indumentária de desporto para percorrer os quilómetros prometidos e para enfrentar um final de tarde "bafento", atormentado por um calor ainda gosmento. Maldita forma de colmatar as facadinhas que dou na pseudo dieta. Vou tapando o sol com a peneira, rezo para o meu corpo não dar de si, depois a minha consciência não resiste e já sem forma de fugir, vejo-me obrigada a ir correr.
Nem tudo é mau. Desengane-se quem pensa que o Verão não traz benefícios na manga. Traz e eu até vos posso confidenciar alguns. Os dias são mais longos. Podemos andar descalços - quando digo isto esboço sempre um sorriso. As peles ganham vida ao vestirem a capa douradinha, dando, assim, um aspecto mais saudável. As pessoas guardam o ar sisudo numa gaveta lá de casa e enchem-se de boa disposição. Arrisco dizer que as pessoas ganham um brilho especial. Andam menos exigentes. Uns metros quadrados de areia e um bocado de mar são suficientes para arrancar a alegria escondida no peito das pessoas. Para os mais afortunados, é a época mais propícia à realização de viagens. Eu como não hei-de fazer nenhuma a sério este ano, aquilo que mais se vai aproximar de uma viagem é o trajecto Lisboa-Funchal que faço, com frequência, há seis anos. Já aquilo que mais se poderá assemelhar a uma aventura são as idas ao supermercado. 
O que mais me irrita no Verão é ver os protectores solares a preço de ouro e olhar para as capas de revistas e ler coisas como "Gostava de ficar com um bronze invejável?". Sim. Mas para isso teria de ir morar para a praia durante três meses, tendo em conta o meu tom de pele "branco mais branco não há". Nem com sumo de cenoura isto vai lá. Tenho de penar uma semana ao sol, com horários rígidos, para ficar três dias com um bronze que depois vai para o espaço. E ando neste toca e foge durante meses. Não dá para mim. Eu já desisti. A grande custo lá vou superando estes dissabores da vida. Já deu para perceber ao longo dos anos que eu nunca vou ficar com um bronze tipo bolacha Maria torrada, mas contento-me com um bronze tipo casca de amendoim. Aquele bronze deslavadinho. Lindo que só ele. O único benefício é a pele não envelhecer tão rápido - isto não são só más notícias. É bom pensar que aos quarenta ainda posso ter uma pele de pêssego. 
Bom, mas este ano ando mais preocupada com o meu modus operandi. Há todo um plano de ataque para traçar que vai de Julho a Setembro e como sempre nunca penso nisso com antecedência. Para já tenho poucas coisas em mente. O primeiro passo é enfiar-me dentro do bikini novo. O segundo é fingir que não estou chateada por não ter perdido os quilos que desejava. E o terceiro é tomar o primeiro banho de água salgada do ano.
Do We Love Food para o mundo, declaro que está oficialmente aberta a época balnear e a corrida às praias mais bonitas de Portugal. Juntem o útil ao agradável e sejam felizes numa esplanada à beira-mar. Vem sempre a calhar.

Mafalda Ramos

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