segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A comida e os desamores




Das poucas vezes que perdi o apetite na vida foi por causa do amor. Ai o amor a quanto obriga... O amor tem este lado malvado, bruto e descontrolado. O que parece ser uma bênção transforma-se em maldição. Sacode-nos as entranhas e dá-nos a volta às artérias até ficarem do avesso. É capaz de nos fazer ficar com um pé para a cova num abrir e fechar de olhos. E quando acordamos já aconteceu tudo e perguntamos "em que parte devia ter tomado as rédeas?". Pior. Se há coisa que não lhe perdoo é deixar-me sem vontade de comer. 
Não gosto de fazer sala à mesa. Em pequena nunca fui de ficar horas a ruminar e a torrar a paciência de quem me levava a colher à boca. Achava chato fazer alguém esperar. Era sempre aquela que depois de limpar o prato ainda pedia para repetir. O parte má de tudo isto tudo é que depois cresci e a coisa descambou. 
Descobri uma espécie de amor na altura da adolescência e consequentemente a falta de apetite na hora do aperto. Ora eram as borboletas que decidiam montar o acampamento dentro do meu estômago numa tentativa de se dar a metamorfese ali mesmo, ora eram as decepções amorosas que acabavam por me dar cabo do sistema durante uma dúzia de meses.
Eis que depois voltei a crescer mais um bocadinho e cheguei à idade da plenitude (ou quase). Agora no auge dos vinte e quatro anos. Está-se bem assim. Para além de descobrir um sem fim de iguarias nacionais que passam a vida a dar palmadinhas no meu colesterol, refinou-se o meu gosto por pratos internacionais. No top cinco estão: o Sushi (Japão); Paella à Valenciana (Espanha); Chicken Tikka Masala (Índia). Pizzas e massas (Itália). Pita Shoarma (Israel). 
Agora a conversa é outra. Amores superados e promessas feitas a pés juntos - de que nunca mais volto a perder a fome tão facilmente -, mudaram o rumo da minha história. Agora só faço braço de ferro com a comida quando se trata de uma entrevista de emprego. Aí não há volta a dar, o estômago fica do tamanho de uma ervilha na hora da pressão e só volta ao tamanho de uma couve-flor quando sinto que o pior já passou. Comprime. Descomprime. E a coisa lá vai andando. Ninguém disse que crescer era fácil, nunca me venderam a ideia de que isto seria pêra doce. Existe o amargo, o salgado, doce, o azedo, o sem gosto, o apimentado e por aí adiante. Cabe-nos a nós escolher o sabor que queremos dar à nossa vida. Eu já escolhi. Quero doce para sempre!

Texto: Mafalda Ramos
Fotografia: Cátia Matias

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